A professora de Biologia Andrea faz artesanatos Foto: Roberto Moreyra |
No Brasil, a profissão mais numerosa do país, que ocupa 2,2 milhões
de pessoas, tem a maioria de seus profissionais insatisfeitos. Apenas
três em cada dez estão felizes com todos os quesitos de seu ofício. De
acordo com a pesquisa Profissão Docente — levantamento feito na Educação
Básica pelo Todos pela Educação, em parceria com Itaú Social e Ibope
Inteligência, entre os março e maio deste ano — 29% dos professores
exercem uma segunda atividade para complementar a renda.
Esse é o caso da professora de Educação Física da rede estadual de
ensino, Márcia Rodrigues, de 50 anos. Além de trabalhar em duas escolas
de Cabo Frio (RJ), para conseguir manter as contas em dia, ela atua como
personal trainer em academias e ainda aplica provas de concursos
públicos.
— Às vezes, não dá nem para almoçar, porque o intervalo é muito curto
para me deslocar de uma escola para a outra. E os extras que faço
aplicando provas sempre são nos fins de semana. Para ter uma vida com um
pouco de conforto, é preciso trabalhar duro — desabafou.
Assim como os 78% entrevistados na pesquisa, que responderam que
escolheram a profissão por afinidade, a professora de Biologia Andrea
Piratininga, de 47 anos, percebeu ainda na faculdade que gostava de dar
aulas. Entretanto, dos 20 anos como docente, 18 também foram de
dedicação ao artesanato para complementar a renda.
— Faço desde bijuterias a bolsas e até reforma de móveis. Isso garante 30% da minha receita — contou.
Já a professora de Português Clarice Goldemberg, de 63 anos, há 22
concilia a rotina de lecionar com correções de texto para outros
profissionais (com advogados), a fim de ter verba para seu lazer. A
docente faz parte dos 48% que se sentem desvalorizados. Para ela, a
falta de infraestrutura é um grande problema hoje em dia:
— Fora o salário, a sala de aula não é preparada para o professor: o ar-condicionado pinga, espumas fazem a vez de apagadores.
— Fora o salário, a sala de aula não é preparada para o professor: o ar-condicionado pinga, espumas fazem a vez de apagadores.
A pesquisa ainda revelou que 62% dos docentes querem aumento
salarial, 64% esperam a restauração da autoridade e do respeito frente à
comunidade escolar, e 69% desejam formação continuada para exercer o
ofício de forma eficaz. Tamanha insatisfação se reflete em outro dado
que influencia as próximas gerações: 49% não recomendam a profissão para
os mais jovens.
A remuneração média no país, segundo os professores pesquisados, é de
R$ 4.451,56, atualmente. Mas um em cada três professores têm contrato
com carga horária de menos de 20 horas semanais, o que pode ter impacto
na renda e também no cumprimento do 1/3 da carga horária prevista na Lei
do Piso do Magistério para as atividades extra-classe.
Extra – O Globo