A Caixa Econômica Federal avaliou como grande a possibilidade de levar calote do Corinthians no acordo de pagamento pelo empréstimo para a construção do Itaquerão. O clube recebeu do banco uma das piores notas na avaliação interna de riscos.
É o que mostram e-mails confidenciais, aos quais a Folha teve
acesso, em auditoria externa realizada pelo escritório Pinheiro Neto
Advogados e agora em posse do Ministério Público Federal.
A estatal classificou o clube com a nota “E”, com “capacidade para
arcar com o compromisso bastante limitada”, em análise sobre a proposta
de reestruturação da operação de crédito da arena.
“Não há um racional sobre os referidos riscos [em cima da proposta].
Um dos riscos citados é a insolvência dos devedores”, menciona o banco,
em mensagens eletrônicas trocadas entre executivos no mês de junho de
2017.
Essa análise é assinada por Gustavo Sena, gerente-executivo; Darlo de
Paula, gerente nacional; e Luiz de Paula, superintendente nacional; e
encaminhada por Alexsandro Ramlov de Araújo, do departamento de risco de
crédito, para o diretor nacional da Caixa, Jair Luis Mahl.
“Avaliação de risco recente atribuiu rating ‘E’ para o clube, sendo
sua capacidade para arcar com o compromisso bastante limitada, podendo
resultar em postergação de manutenções, deterioração do ativo ou outras
ações contingenciais, inclusive pressões para a liberação de recursos
para viabilizar a realização de jogos e eventos frente a necessidade de
manutenções emergenciais”, descreve o e-mail.
A troca de mensagens debate sobre um eventual acordo para a volta do
pagamento das parcelas pelo empréstimo de R$ 400 milhões feito para a
construção do estádio corintiano, por meio de recursos do programa do
BNDES Pró-Copa Arenas. O estádio foi inaugurado em 2014 e usado na
abertura da Copa do Mundo, no mesmo ano.
A Caixa também se mostra incomodada com o negócio. “A proposta advém
de um cenário de constantes frustrações e descumprimentos no âmbito da
operação (…), não estão sendo atendido as premissas de receitas, custas e
despesas (…), fica evidente que o fluxo de caixa atual do projeto será
incapaz de honrar com os compromissos financeiros da Arena”.
“Tratam-se de e-mails discutindo a reestruturação de operação de
crédito realizada pela Odebrecht e pelo Corinthians relacionada à
construção da Arena Itaquera”, descreve a equipe de investigação que fez
a auditoria.
Em resposta, Jair Luis Mahl diz que a reestruturação proposta
configurava-se em uma derradeira oportunidade para o banco, o clube e a
Odebrecht cumprirem o contrato de financiamento, além de uma tentativa
de evitar os riscos de processos judiciais de execução da dívida, tais
como demora do Judiciário, insolvência dos acionistas, recebimento de
valores aquém do esperado, entre outros.
GARANTIAS
Nos e-mails, Jair Luis Mahl confirma que a estatal queria o valor
arrecadado pelo clube com o programa Fiel Torcedor como garantia, como antecipado pela Folha em 19 de dezembro de 2017.
“É a primeira vez que conseguimos agregar garantia adicional na
negociação”, menciona o diretor. Posteriormente ao e-mail, o Conselho
Deliberativo do clube rejeitou dar aval ao pedido.
Também é mencionada como garantia do empréstimo a alienação
fiduciária do Parque São Jorge, sede do clube, além da hipoteca em
segundo grau de imóvel, avaliada em R$ 207 milhões. Há ainda outros
pontos, como cessão dos direitos de todos os contratos celebrados por
terceiros -nesse caso, o item foi classificado como “somente tem valor
caso a Arena se mantenha operacional”.
Procurada, a Caixa Econômica Federal afirmou que não pode comentar
informações sobre o empréstimo feito para a construção da Arena
Corinthians devido à lei que trata do sigilo das operações de
instituições financeiras. Os executivos do banco Jair Mahl e Alexsandro
Araújo também foram procurados, mas não responderam à Folha.
O Corinthians afirmou que “está cumprindo rigorosamente com todas as
parcelas referentes à construção da Arena Corinthians e, por isso, não
tem o que comentar sobre a troca de e-mails”.