Um dia após o fim da rebelião que terminou com 26 mortos na
penitenciária de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal (RN), um novo
motim foi registrado na manhã desta segunda-feira (16).
O vice-diretor do presídio de Alcaçuz, Juciélio Barbosa, afirmou que
os detentos estão no telhado da penitenciária. “A cadeia está virada.
Tem PCC [Primeiro Comando da Capital] de um lado e Sindicato do Crime do
outro. Estão usando tudo: paus, pedras e com bandeiras das facções”,
disse Barbosa.
As duas facções lutam pelo domínio do sistema carcerário no Estado,
especialmente em Alcaçuz, de acordo com o advogado Gabriel Bulhões, da
Comissão de Advogados Criminalistas da OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil) do Rio Grande do Norte. O Sindicato do Crime é uma dissidência
do PCC surgida por volta de 2012 da qual todas vítimas faziam parte.
O diretor afirmou que os presos soltos estavam subindo com frequência
no teto do presídio. A Polícia Militar já foi acionada e já se desloca
para o local. O governo do Estado ainda não divulgou informações sobre o
novo motim.
Além de Alcaçuz, o governo do Rio Grande do Norte também registou na
madrugada desta segunda (16) uma rebelião no Presídio Provisório
Professor Raimundo Nonato, na capital potiguar. O motim começou às 3h
(4h horário de Brasília) e, segundo o governo do Estado, a situação está
controlada e não houve fugas nem há informações de feridos.
Na tarde deste domingo (15), o secretário de Estado da Segurança
Pública, Caio Bezerra, havia dito que o policiamento na unidade estava
reforçado na área externa e guaritas do presídio de Alcaçuz. “A Polícia
Militar e a Força Nacional estão patrulhando o perímetro para prevenir
fugas. Temos um planejamento e continuaremos colocando em prática para
evitar que novos motins aconteçam.”
De acordo com o titular da Sejuc (Secretaria de Justiça e Cidadania),
Wallber Virgolino, alguns responsáveis pela rebelião foram
identificados. “O monitoramento continua e estamos avaliando. Caso
necessário, faremos as transferências dos grupos e líderes que
participaram do motim para outras unidades prisionais”, declarou o
secretário.
MASSACRE EM ALCAÇUZ
Motim na penitenciária de Alcaçuz deixou 26 presos mortos neste fim
de semana, segundo contagem do governo. A rebelião foi motivada por uma
briga nos pavilhões 4 e 5 do presídio envolvendo as facções PCC e
Sindicato do Crime. Segundo o governo, todos os mortos são ligados ao
Sindicato do Crime. Houve uma invasão de um pavilhão por presos
inimigos, o que deu início ao motim.
A matança é mais um capítulo da crise penitenciária no país: é o
terceiro massacre em presídios em apenas 15 dias. No total, 134 detentos
já foram assassinados somente neste ano, 36% do total do ano passado,
quando 372 presos foram mortos.
O trabalho de identificação dos corpos começará nesta segunda e deve
seguir por 30 dias, diz o governo –em Roraima, onde um motim deixou 33
mortos no dia 6, o governo demorou pouco mais de um dia para divulgar
uma lista com os nomes de 31 vítimas. Dois dos presos mortos no Rio
Grande do Norte foram carbonizados e todos os outros foram decapitados.
Segundo o diretor do Itep (Instituto Técnico Científico de Perícia),
Marcos Brandão, não há marcas aparentes de perfuração por balas nos
corpos, apenas por instrumentos cortantes –ainda é preciso fazer
necropsia nos corpos para identificar as causas de morte. Agentes
encontraram dentro do presídio uma pistola caseira, de um cano feita
manualmente, e granadas não letais, que não foram usadas, segundo o
governo.
MORTES EM PRESÍDIOS
Com mais essas 26 mortes, o número de assassinatos em presídios pelo
país chega a 134 casos nas primeiras duas semanas do ano. As mortes já
equivalem a mais de 36% do total registrado em todo ano passado. Em
2016, foram ao menos 372 assassinatos –média de uma morte a cada dia nas
penitenciárias do país. O Estado do Amazonas lidera o número de mortes
em presídios com 67 assassinatos, seguido por Roraima (33).
No dia 1° de janeiro, um massacre no Complexo Penitenciário Anísio
Jobim (Compaj) deixou deixa 56 mortos em Manaus (AM), após motim que
durou 17 horas. No dia seguinte, mais quatro detentos morrem na Unidade
Prisional de Puraquequara (UPP), também em Manaus.
Seis dias depois, uma rebelião na cadeia de Raimundo Vidal Pessoa
deixou quatro mortos. Logo em seguida, três corpos foram encontrados em
mata ao lado do Compaj. Com isso, subiu para 67 o total de presos mortos
no Amazonas.
No dia 4 de janeiro, dois presos são mortos em rebelião na
Penitenciária Romero Nóbrega, em Patos, no Sertão da Paraíba. Dois dias
depois, 33 presos são mortos na maior prisão de Roraima, a Penitenciária
Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista.
Na tarde de quinta (12), dois detentos foram mortos na Casa de
Custódia, conhecida como Cadeião, em Maceió (AL). O presídio, destinado a
abrigar presos provisórios, fica dentro do Complexo Penitenciário, em
Maceió (AL). Jonathan Marques Tavares e Alexsandro Neves Breno estavam
nos módulos 1 e 2 da cadeia, respectivamente.
No mesmo dia, dois presos foram mortos em São Paulo, na Penitenciária
de Tupi Paulista (a 561 km da capital paulista). A Secretaria da
Administração Penitenciária informou que eles morreram durante uma briga
em uma das celas.
Neste domingo (15), uma fuga na Penitenciária Estadual de Piraquara,
no Paraná, deixou dois mortos. Um grupo explodiu, pelo lado de fora, um
muro da penitenciária, que concentra membros da facção PCC (Primeiro
Comando da Capital), segundo agentes penitenciários ouvidos pela Folha.