A Operação Cui Bono? (a quem beneficia?), deflagrada nesta
sexta-feira (13) pela Polícia Federal, coloca o partido do governo
Temer, PMDB, como suposto favorecido pelo esquema de corrupção na Caixa
Econômica Federal envolvendo o ex-ministro do governo Geddel Vieira Lima
e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Na representação à Justiça Federal em que pede autorização para
buscas na sede do banco e na residência de Geddel, entre outros
endereços, a Procuradoria da República destaca diálogos recuperados de
um celular encontrado na casa de Eduardo Cunha, em Brasília, na Operação
Catilinárias.
“Os diálogos não deixam dúvidas de que Geddel Vieira Lima e Eduardo
Cunha buscavam contrapartidas indevidas junto às diversas empresas
mencionadas ao longo da representação, visando à liberação de créditos
que estavam sob a gestão da vice-presidência de Geddel”, assinala o
procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes.
O procurador cita o operador financeiro Lucio Bolonha Funaro,
capturado na Operação Sépsis, a partir da delação premiada de um
ex-vice-presidente da Caixa, Fábio Cleto.
“Os valores indevidos eram recebidos por meio das empresas de Lucio
Bolonha Funaro e possivelmente por outros meios que precisam ser
aprofundados, tendo como destinação o beneficiamento pessoal deles ou do
PMDB”, aponta o procurador.
A Polícia Federal investiga um esquema de fraudes na liberação de
créditos junto à Caixa Econômica Federal que teria ocorrido pelo menos
entre 2011 e 2013. Geddel, então vice-presidente de Pessoa Jurídica da
Caixa Econômica Federal, Marcos Roberto Vasconcelos, então
vice-presidente de Gestão de Ativos, um servidor da CEF, empresários e
dirigentes de empresas dos ramos de frigoríficos, de concessionárias de
administração de rodovias, de empreendimentos imobiliários e de um
operador do mercado financeiro teriam participado do esquema.
Aliado muito próximo do presidente Michel Temer, Geddel caiu da
cadeira de ministro da Secretaria de Governo em 25 de novembro, em meio
ao escândalo protagonizado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero,
que o acusou de pressioná-lo para que o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan) autorizasse a construção de um
residencial de alto padrão em uma área nobre tombada em Salvador.
Calero pediu demissão da Cultura sob alegação de que Geddel teria ameaçado levar o caso a Temer se não fosse atendido.
Marcos Roberto Vasconcelos foi indicado ao cargo pelo PT e exonerado
no Governo Michel Temer (PMDB). O executivo teve um imóvel vasculhado em
Maringá, no Paraná.
Segundo nota da PF, sete medidas de busca e apreensão foram
determinadas pelo Juiz da 10ª Vara da Justiça Federal no Distrito
Federal.
A investigação da Operação Cui Bono? é um desdobramento da Operação Catilinárias, realizada em 15 de dezembro de 2015.
Naquela oportunidade os policiais federais encontraram um aparelho
celular em desuso na residência do então Presidente da Câmara do
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Submetido a perícia e mediante
autorização judicial de acesso aos dados do dispositivo, a Polícia
Federal extraiu uma intensa troca de mensagens eletrônicas entre o
Presidente da Câmara à época e o Vice-Presidente da Caixa Econômica
Federal de Pessoa Jurídica entre 2011 e 2013. As mensagens indicavam a
possível obtenção de vantagens indevidas pelos investigados em troca da
liberação para grandes empresas de créditos junto à Caixa Econômica
Federal, o que pode indicar a prática dos crimes de corrupção, formação
de quadrilha e lavagem de dinheiro.
Diante destes indícios os policiais passaram então a investigar o
caso, que tramitava no Supremo Tribunal Federal em razão de se tratar de
investigação contra pessoas detentoras de prerrogativa de foro por
função. Porém, em virtude dos afastamentos dos investigados dos cargos e
funções públicas que exerciam, o Supremo Tribunal Federal decidiu
declinar da competência e encaminhar o inquérito à Justiça Federal do
DF.
O nome da operação é uma referência a uma expressão latina que,
traduzida, significa literalmente, “a quem beneficia?” A frase,
atribuída ao cônsul Romano Lúcio Cássio Ravila, é muito empregada por
investigadores com o sentido de sugerir que a descoberta de um possível
interesse ou beneficiado por um delito pode servir para descobrir o
responsável maior pelo crime.
Defesa
Alvo da Polícia Federal, que fez buscas no edifício-sede da
instituição, em Brasília, a Caixa informou, em nota, que “presta
irrestrita colaboração com as investigações”.
“Em relação à Operação da Polícia Federal realizada nesta sexta-feira
(13 de janeiro) e no que diz respeito à CAIXA, esclarecemos que o banco
está em contato permanente com as autoridades, prestando irrestrita
colaboração com as investigações, procedimento que continuará sendo
adotado pela CAIXA.”