Por: Sérgio Villar
Este
post pretende muito mais enaltecer o trabalho exemplar da Casa de
Cultura de São José de Campestre e do agente cultural Alexandre
Feliciano, 36, do que qualquer crítica à política partidária responsável
pelo lamentável despejo de artistas da Casa de Cultura.
O
mundo precisa de mais pessoas como Alexandre – um batalhador pela arte
campestrense há mais de duas décadas. Foi agente de cultura por um bom
tempo. Talvez uns 10 anos, atravessando gestões até se esbarrar nesta
administração petista.
Assisti
de perto a luta de Alexandre, quando a equipe da Revista Preá esteve no
município da Borborema potiguar. Um ano antes, em 2004, Alexandre
fundara a Associação Artística Campestrense, com ajuda de Gutenberg
Costa e Severino Vicente.
A
Associação praticamente mantém a Casa de Cultura de Campestre. É ela
quem se inscreve e ganha editais. É ela que foi até pouco tempo Ponto de
Cultura. É ela, comandada por Alexandre, quem movimente a arte do
município.
Portanto,
Alexandre foi Agente de Cultura e preside a Associação fundada por ele.
Com a Associação, mantinha a Casa de Cultura de Campestre via editais,
convênios e ajuda da prefeitura e até de pais de alunos que reconheciam
seu trabalho.
Alexandre
organizou figurino (a mãe costura de graça para os alunos), som e
equipamentos da Casa, a exemplo do bebedouro, computador, impressora,
uma minibiblioteca conseguida junto a uma associação alemã e até a
iluminação (com mão-de-obra municipal).
Quando
de convites para os grupos de Campestre participar de eventos na
capital, no interior ou fora do Estado, Alexandre organiza apresentações
na Casa de Cultura, promove mostras de cinema e rifas para arrecadar
dinheiro e pagar a viagem dos grupos.
Em
junho, Alexandre pretende levar o Boi de Reis Sete Estrelas, também
fundado por ele, para o Encontro de Bois, em Aliança, Pernambuco. Para
tal já pensa na organização de festas, feijoadas e espetáculos para
“levar o nome do RN” fora do Estado.
Mas
onde? A Casa de Cultura agora é administrada pelo novo Agente de
Cultura nomeado pela Fundação Zé Gugu, conhecido como Elson da Megasena.
Sim, ele já foi sorteado na famigerada e está bem de vida. Mas quer o
salário mínimo de Agente e já despejou os grupos da Casa.
A
Casa de Cultura, até então, abria em diferentes horários, conforme a
rotina de estudos e afazeres dos 30 alunos, para que ninguém perdesse os
ensaios. O moço da megasena não abre sequer no horário comercial. Nem
entrega a chave para ninguém, como era feito antes.
Da
Casa de Cultura apenas o mobiliário foi doado pela FJA. “Tudo foi
conseguido por intermédio da Associação, inclusive o recente edital RN
Sustentável, para montagem da Filarmônica”, ressalta Alexandre.
Alexandre
disse ainda que o moço da Megasena até pediu para os grupos ficarem.
“Quer aparecer às nossas custas sem pagar nada, sem apoiar nada; quer
apenas levar o nome, quando tudo foi construído e mantido pela
Associação”.
O
Boi de Reis Sete Estrelas, fundado por Alexandre, já saiu da Casa.
Muitos outros grupos, oriundos do próprio Boi, também. Até por falta de
espaço para ensaio em seus horários de costume. Alguns dias a Casa abre
apenas pela manhã, segundo Alexandre.
“Ontem
(terça passada) a casa abriu só pela manhã. Os grupos foram para minha
casa, em vez da Casa de Cultura. Quando for amanhã não sabemos se ele
abre a casa. Com a revolta dos grupos, ele mandou botar as coisas pra
fora, disse que tínhamos 24 horas para sair”, contou.
Visita de Rodrigo Bico
Poucos
dias antes desse episódio, o diretor geral da FJA, Rodrigo Bico, esteve
em Campestre para o tal Diálogos Culturais. Alexandre disse que todos
ficaram “maravilhados” com a visita. Mas logo depois veio a decepção.
“Bico
saiu daqui e deixou a gente cheio de alegria. Com três dias recebemos a
primeira dama de Serra de São Bento, que ficou doida dizendo que queria
uma casa daquela. Temos um trabalho com municípios vizinhos de longa
data”, se orgulha Alexandre.
Com
a situação atual, as prefeituras de Serra de São Bento e Serra Caiada
se sensibilizaram e disseram que iriam falar com o governador Robinson
Faria. A população campestrense também está revoltada, segundo
Alexandre.
Palavra da Fundação José Augusto
“O
que temos é uma situação gerada por causa da transição de Governo.
Realmente tivemos problemas na Casa de Casa de Cultura de São José de
Campestre, mas a situação está sendo mediada pelo coordenador das Casas,
Messias Domingos”, disse a Assessoria do órgão.
Outras
transições de governo não interferiram no bom trabalho desenvolvido, é
bom ressaltar. Para Alexandre, sobrou a opção de procurar novo local de
ensaios, “vender nossos espetáculos e viver de arte. Mas queremos nossos
equipamentos porque foi luta e conquista nossa”.
Postado por Gonzaga Filho
*Fonte: Regional Onlle