Presos da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na Região
Metropolitana de Natal, ameaçam promover uma nova matança caso o governo
estadual não transfira detentos ligados a uma facção rival para outra
unidade prisional. É o que avisa um preso que conversou por telefone com
a reportagem do GLOBO por volta das 18h30m desta terça-feira.
“Nós não quer o PCC aqui não, nós quer que tire eles. E eles
(governo) tinham até hoje para tirar eles (preso). Não tirou. Com quatro
dias que não tiraram, hoje, nós vamos matar tudinho — diz o preso, que
se intitula membro do Comando Vermelho e aliado do Sindicato do RN. —
Nós quer que tire eles. Bote eles pra Caraúba, Mossoró, bote pros
infernos da terra, mas não deixe perto de nós. Porque Alcaçuz é só
nossa. Tá entendendo? É só nós. Aqui a gente só sai quando derramar a
última gota de sangue”, prometeu.
Segundo o preso, a situação em Alcaçuz é crítica. Ele diz que há
detentos com ferimentos à bala e cortes. Ele não descarta que outros
presos tenham sido mortos além dos 26 contabilizados pelo governo.
O GLOBO conversou com o preso por cerca de três minutos por
intermédio de sua mulher, de 19 anos, que não quis se identificar e
mantém conversas regulares com o marido por telefone. Ontem, de um morro
próximo ao presídio, ela acenava para o marido enquanto acompanhava a
movimentação dos detentos.
“Olha lá, é aquele com uma bandeira azul perto do pavilhão cinco. Ele está vivo, você está vendo?”, disse a jovem.
Nesta terça-feira, ao longo do dia, foi possível ver a divisão dos
presos em grupos rivais no pátio da penitenciária. Separados por
barricadas, os bandos se ameaçavam munidos de paus e objetos
pontiagudos. Sons de tiros e bombas foram ouvidos de fora da
penitenciária. No início da tarde, a tentativa de invasão do Pavilhão 5
provocou um corre-corre na área interna da unidade, quando policiais
militares, localizados em uma guarita, atiraram para conter os presos do
Pavilhão 1. Houve mais quatro tentativas de ataque durante a tarde.
Pela manhã, em Brasília, o governador do Rio Grande do Norte,
Robinson Faria (PSD), disse que o presídio estava sob controle. Pouco
antes, os presos haviam voltado a ocupar os telhados da unidade. Segundo
Faria, a tentativa de retomar o controle da penitenciária poderia
provocar um novo massacre em Alcaçuz:
“Se a polícia entrar dentro do presídio, pode haver novas mortes,
confrontos policiais, aí vai ser um novo Carandiru. Temos que evitar
isso. Vamos entrar em casos de extrema necessidade”, declarou.
Segundo o governador, a morte dos presos em Alcaçuz foi uma vingança
promovida pela facção paulista pelo massacre no Complexo Penitenciário
Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, no primeiro dia do ano.
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