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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

LIDERANÇAS DO PMDB POTIGUAR EVITAM COMENTAR SITUAÇÃO DO EX-MINISTRO HENRIQUE ALVES

henrique


O presidente potiguar do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e ex-ministro do Turismo, Henrique Alves, está desde o dia 16 de junho de 2016 sem ocupar um cargo político. O motivo – possivelmente – jaz nas investigações da Operação Lava Jato.
Apesar de ter perdido crédito com a população do Rio Grande do Norte em 2014, quando foi derrotado nas eleições para governador do estado por Robinson Faria (PSD), justamente por ter sido citado na Lava Jato, o mais perto que o peemedebista chegou do temido juiz federal Sérgio Moro foi através de uma teleconferência, quando serviu de testemunha para o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha – um dos principais nomes investigados pela Operação. A indireta perda do cargo federal foi a única “penalidade” que Henrique enfrentou – até agora – em detrimento do processo.
Os fatos provocam questões: seria Henrique Alves realmente culpado, como indicariam as diversas citações e a conta secreta na Suíça para depósito de propina da Lava Jato? Será ainda que Moro o consideraria “peixe pequeno” demais para ocupar seu valioso tempo? Ou será que o peemedebista seria inocente?
Há, entretanto, uma terceira possibilidade. Dentro de muito em breve, assim que o Supremo Tribunal Federal (STF) se restabelecer após o falecimento do ex-ministro Teori Zavascki, os magistrados pretendem dar continuidade às apurações da “Mega Delação” da Odebrecht – que, segundo corre nos bastidores, se concentrariam especialmente em membros do PMDB. Neste caso, Moro poderia estar esperando novas informações para que possa, enfim, mirar seu martelo em Henrique.
Para tentar entender a situação atual do ex-ministro, o Agora Jornal buscou entrevistar ele próprio e as lideranças potiguares da sigla no Rio Grande do Norte e em Brasília. Sua assessoria informou que ele estava na praia. Já dentre os entrevistados, foram buscados o senador Garibaldi Alves; o presidente do partido em Natal e vereador, Ubaldo Fernandes, e Nélter Queiroz, deputado estadual. O que todos tiveram em comum – além de representarem o PMDB – foi a relutância em comentar a saída de Henrique do quadro político após ele ter pedido demissão ao presidente Michel Temer e abandonar o cargo de ministro do Turismo.
“Prefiro não tecer comentários, porque é um assunto pessoal de Henrique, não cabe a mim emitir opinião sobre esta questão”, disse Ubaldo, cuja resposta se mostrou semelhante ao do deputado Nélter, que afirmou que “apenas Henrique poderá se explicar”. O senador Garibaldi Filho, por sua vez, também foi contatado através de sua assessoria, mas não deu retorno.
Sem opiniões de políticos envolvidos diretamente com Henrique Alves, restam as suposições. No começo do ano passado, foi descoberta uma citação a Henrique em uma troca de mensagens entre o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o ex-presidente da construtora OAS Léo Pinheiro. Na conversa, Cunha pedia a Pinheiro para repassar dinheiro ao, então, ministro do Turismo. Esse foi apenas o começo.
Questionado sobre o esquema de corrupção envolvendo Eduardo Cunha e seu próprio nome, Henrique disse, na época, que os repasses da OAS realmente existiram, mas foram “doações legais”. Em mensagem datada de 15 de outubro de 2012, Cunha questiona uma falha em um dos supostos repasses a Henrique: “Assunto Henrique não entrou no partido hj, e pelo feriado?”. Já Pinheiro, responde um dia depois: “Sim, será feito amanhã. Avisar por favor a HA”.
A princípio, Henrique foi aconselhado pelo, então, presidente em exercício Michel Temer a deixar seu cargo de ministro do Turismo, opção não aceita de imediato. Contudo, quando surgiu a informação no Palácio do Planalto de que autoridades policiais teriam encontrado indícios de que Henrique seria dono de uma conta secreta na Suíça, não houve jeito; em comum acordo com Temer, Henrique Alves anunciou seu pedido de demissão do Ministério do Turismo após exatamente um ano e dois meses no cargo (em março de 2016, Henrique chegou a deixar o posto pela primeira vez, mas voltou a pedido de Temer enquanto a ex-presidente Dilma Rousseff enfrentava seu impeachment).
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, chegou a usar, em maio de 2016, a expressão “há indícios bastante seguros”, sobre um possível envolvimento de Henrique Alves no quadro de escândalos da Lava Jato. Janot esperava a ampliação da lista de investigados de um dos maiores inquéritos – em termos de número de políticos envolvidos – da operação. Apenas um mês depois, Janot denunciou Henrique por crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas em razão da conta atribuída ao presidente potiguar do PMDB na Suíça; esta que ostentava 800 mil francos suíços (cerca de R$ 2,8 milhões).
Além disso, também foi pedida a abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal, após Henrique ser também citado, um dia antes de pedir demissão, na delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Machado relatou ter repassado a Henrique Alves o valor de R$ 1,55 milhão em propina entre 2008 e 2014, sendo R$ 500 mil em 2014; R$ 250 mil, em 2012 e R$ 300 mil em 2008. Os valores foram repassados, segundo Machado, pela Queiroz Galvão. Mais R$ 500 mil seriam pagos em 2010 pela Galvão Engenharia.
Os recursos de Sérgio Machado eram entregues, segundo ele, por meio de doações oficiais, mas eram oriundas de propina dos contratos da subsidiária da Petrobras. Ainda de acordo com o delator na época, Henrique costumava procurá-lo com frequência em busca de recursos para sua campanha.
Curiosamente, apesar de ter deixado seu cargo oficialmente, Alves não deixou de despachar com Michel Temer. Há pouco mais de um mês, no dia 21 de dezembro de 2016, ele utilizou seu perfil pessoal no Twitter para informar aos seus seguidores que havia conversado com o presidente da República sobre a repatriação de multas para os municípios – algo que viria a ajudar os prefeitos em crise financeira a resolver parcialmente problemas salariais com o funcionalismo. Na mensagem, ele ainda dizia: “Hoje ainda sairá o Diário Oficial com a justa correção para depósitos do dia 30/12! Justiça”.
Com perfil reservado, Henrique Alves é um personagem de difícil acesso para a imprensa, preferindo sempre se pronunciar apenas através das redes sociais, onde costuma repercutir os principais acontecimentos do Rio Grande do Norte (como a crise em Alcaçuz) e do Brasil (mais recentemente o AVC sofrido pela esposa do ex-presidente Lula, Marisa Letícia da Silva). Estratégia de defesa, ou não, Henrique segue sob expectativas contínuas de surgirem novas ações contra ele. Mesmo após o falecimento do ex-ministro Teori Zavascki – morto em um desastre de avião no último dia 19 de janeiro – que em dezembro de 2015 havia autorizado buscas pela Polícia Federal na casa de Henrique, como parte da Operação Catilinárias, as investigações continuam, e enigma do “peixe grande, peixe pequeno” deve logo ser solucionado.

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