O Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Sindicato do Crime RN vinham
disputando o controle dos presídios potiguares e do comércio de drogas
no Rio Grande do Norte desde 2015. O nível de violência do conflito,
entretanto, mudou de patamar diante da guerra entre a facção paulista e
as demais quadrilhas do País depois do massacre ocorrido em Manaus, no
Amazonas, no dia 1.º. O pano de fundo da disputa é o monopólio das rotas
de distribuição de drogas vindas da América Latina para o Brasil.
O secretário de Estado da Justiça e da Cidadania do Rio Grande,
Wallber Virgolino Ferreira da Silva, reconheceu a ligação entre a ação
no Estado com as demais chacinas. “A situação no Norte estimulou aqui.”
O massacre de anteontem é o segundo promovido pela facção paulista
depois da ação no Amazonas, organizado pela Família do Norte (FDN). O
primeiro foi na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista,
Roraima, com 33 mortes. O mesmo modus operandi registrado nos dois Estados se repediu no RN: os mortos foram decapitados e expostos em vídeos distribuídos pelo WhatsApp.
“No contexto nacional, o PCC é um grande articulador. Sabia-se que
eles iam articular algo por aqui, uma vez que já tinham rivalidade com o
Sindicato RN”, afirma o sociólogo Ivenio Hermes, do Observatório da
Violência Letal do Rio Grande do Norte.
Hermes cita a falta de controle por parte do Estado no interior das
penitenciárias do RN como um fator que facilitou a ação de anteontem. “A
Penitenciária de Alcaçuz, por si, já é um grande problema. Construída
no meio das dunas, com vários túneis sob a estrutura, e hoje fica a 12
metros de algumas casas. Das 12 guaritas, apenas cinco funcionam e não
dão visão de toda a unidade.”
Histórico. O Sindicato RN é uma facção maior que o PCC no Rio Grande
do Norte e nasceu em 2015 como uma reação à presença paulista,
registrada pelas autoridades desde 2010, segundo contou ao Estado,
em agosto, o juiz de Execuções Penais Henrique Baltazar. A facção é
aliada à FDN: Gerson Lima Carnaúba, o Mano G, um dos líderes do grupo do
Amazonas, ficou um mês preso em Natal e se associou ao Sindicato.
Enquanto o PCC tem o controle das fronteiras do Brasil com o
Paraguai, exercendo influência em Mato Grosso do Sul e no Paraná, há uma
disputa pela chamada Rota do Solimões, usada para escoar as drogas
produzidas na Colômbia. Nesta rota, a facção paulista luta contra o
Comando Vermelho, do Rio, e as facções do Norte e do Nordeste, aliadas
contra os paulistas. “O leigo pode não saber, pode achar que é
interessante que os bandidos se matem. Mas essas mortes fortalecem e
tornam maiores as facções. Elas criam monopólios”, afirma o
ex-secretário nacional de Segurança Ricardo Balestreri, que hoje vive em
Natal.
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